Que haja amor para nos salvar da vida

“Fogo eterno pra afugentar
O inferno pra outro lugar
Fogo eterno pra consumir
O inferno, fora daqui”
(Gilberto Gil)

Agora a pouco estávamos imersos nas realidades construídas pelo coreógrafo Salia Sanou. Neste momento o espírito é de celebração: começou pra valer a décima edição da Bienal Sesc de Dança. Embalados pela música de Gilberto Gil, os artistas de Burquina Faso movimentam alegremente seus corpos junto a outros personagens que vivem este instante de festa.

DJ Barata na festa de abertura. Foto: Fernando Bisan

Acabamos de assistir ao espetáculo Do Desejo de Horizontes, da companhia africana Mouvements Perpétuels. Fomos apresentados a algumas metáforas para angústias da vida, essa complexa etapa da existência que se passa no breve momento entre concepção e a morte.

A máquina de movimento perpétuo, a que o nome da companhia remete, seria um equipamento que uma vez ativado nunca mais pára e nem precisa nenhuma energia adicional para se manter em movimento. A física afirma que é impossível construir uma máquina com estas características. Assim como é impossível manter a máquina da humanidade em harmonia sem uma força que a reanime.

Os artistas da companhia se colocam em movimentos ora solitários, ora coletivos…. Se atraem e se repelem, construindo imagens com seus corpos ou entre as camas de campanha, que nos transportam para um campo de refugiados e que mais tarde se transformam nas ruínas de uma possível cidade destruída. Há momentos em que parece não haver nenhuma faísca de esperança.

Qual seria essa energia capaz de nos ativar eternamente enquanto seres humanos? Qual o fogo eterno que afugenta o inferno pra fora daqui?

O amor pode ser uma resposta. É ele que conduz o povo que nesta noite habitou o palco preparado no Galpão do Sesc Campinas a um momento de catarse coletiva. Liberdade, encontro, celebração.

“Derramar o bálsamo, fazer o canto, cantar o cantar.”
(Gilberto Gil)

Este novo capítulo entre as dores e as delícias da existência humana acabou de começar.

Texto de Mariana Krauss, editora web do Sesc Taubaté.