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Não entendi nada

Amiga e/ou Amigo, chama no probleminha bebê. Você não está sozinha/o.

Quantas vezes escutamos ou nós mesmos já dissemos isso ao sair de alguma apresentação de dança? Não entender faz parte! Logo dirão alguns. O que não muda nossa cara de WTF?!

Também há quem prefira fingir que entendeu. Com um olhar meio aqui, meio para o infinito, limitando-se a um Interessante, apenas por ter que dizer algo. Não somos obrigados.

“Para nós é estranho, vão ter que suar muito para nos introduzir neste assunto.”
Nivaldo Andrade, presente na plateia da Mesa Formação Universitária.

Sejamos sinceros

Para quem ficava no balcão do bar na balada e disfarçava que estava ali apenas por estar bebendo naquele momento, enquanto outros curtiam a pista e, claro, muito antes beijavam na boca, agora estamos aqui, escrevendo sobre dança e recalque.

Antes de entender o que é dança, deviam nos explicar por que raio a vassoura ficava muito mais tempo com alguns que com outros? (Crianças, procurem isso nos anos 80/90).

Frustrações coreográficas à parte, quando topamos algo novo, é algo novo que vem.

“Não dá para saborear morangos e reclamar que não tem gosto de figos.
Ninguém curte uma partida de futebol sem conhecer as regras do jogo.”
Airton Tomazzoni, Coreógrafo.

Tranquilo, mesmo. Há muita coisa que desconhecemos e isso é bom demais. Quantas possibilidades se abrem diante de uma cidade ou um país que nunca visitou ou mesmo do sabor de uma fruta desconhecida?

Não é apenas uma questão de repertório pessoal. Também ela, a dança contemporânea, por vezes se apresenta num ambiente difuso para quem não é do meio, pois são muitos caminhos possíveis, entende? Portanto, caso role um estranhamento, está tudo bem. Era o que tinha para aquele momento. E aqui a gente não está mais falando de entendimento, do quanto compreendeu ou não daquela apresentação, mas sim daquilo que instintivamente absorveu, seja o que for, não importa se diferente daquilo que o artista pensou ou do que foi dito por outros do público. Cada um que pegue o que for seu.

Estamos no quarto dia de Bienal e, por todos os lados, em neon, de todas as maneiras, a dança está tentando chamar sua atenção. Sedutora e empoderada, evidencia que não é como as outras linguagens artísticas, portanto não devemos esperar dela resultados habitualmente encontrados no cinema, na música ou no teatro. Suas obras não precisam ser belas, nem seus corpos magros. Tampouco espere dela um caminho conhecido, começo, meio e fim. Suas formas são mesmo complexas e seus movimentos libertos.

Não se assuste, não há o que temer na liberdade

Chega mais, vem sem medo. Talvez a melhor maneira de experimentar uma novidade seja, trazer o que temos, nada esperar e receber o que vier.

No mais, movimento, corpo, flexibilidade, tensão, relaxamento, contração, espaço, gesto, vazio… tudo isso, que nos é comum e natural, também é dança. Nós temos nossos tempos, vivemos em distintos espaços, sentimos e nos expressamos com o corpo a todo momento. Ambos criamos e somos cria de sentidos.

Pensando aqui… na lambada mandávamos bem.

Texto de Claudio Eduardo, editor web do Sesc Bertioga.

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