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Ações formativas importam

Mesa de debate no Espaço Arena. Foto: Ricardo Assem
Chegando ao fim de mais uma edição da Bienal Sesc de Dança, ainda é possível observar uma hierarquia entre espetáculos e ações formativas, desde a proporção de propostas recebidas entre os dois formatos até em termos de adesão e visibilidade. Aqui mesmo no Ponto Digital, assumindo a nossa mea culpa, poucos são os conteúdos relacionados às formativas.
Jorge Alencar, que juntamente com Neto Machado ministrou a oficina de Honestidade Artística, tendo passado também por uma mesa de debate e pela formação e performação na Biblioteca de Dança, sente que no campo das artes às vezes há uma ansiedade de sequenciar obras artísticas: Nem todo mundo tá interessado em pensar a criação artística de outros jeitos para além da obra em si (…) Eu e Neto temos muito o interesse de pensar que a oficina de Honestidade Artística é um jeito de dar vazão, de dar corpo às nossas questões artísticas… que não é simplesmente uma atividade paralela, pedagógica ou que passa ao largo do nosso trabalho. A oficina é nosso trabalho, é nossa lógica de mundo, é nossa cosmologia e a gente está performando na oficina, como a gente tá performando no nosso trabalho. A gente se engaja com a mesma intensidade, apesar de serem coisas de naturezas diferentes, ao performar um processo formativo como a oficina ou performar um processo coreográfico numa performance. Pra gente essas coisas transitam e são equalizadas de um jeito bem equilibrado.
Ele vê as possibilidades de formação no campo das artes de uma maneira plural: Eu fico pensando que ela é mais potente quanto mais ela se aproximar, der visibilidade e vibração aos campos de interesse de cada artista.
Eu não sou nada interessado por qualquer tipo de formação homogeneizante ou que esteja ali para falar qualquer verdade do que venha a ser dança, do que vem a ser corpo, ou tentar legitimar qualquer tipo de tendência ou viés estético ou poético.*
Jorge Alencar
A oficina de Honestidade Artística vem sendo realizada pela dupla desde 2013 e traz reflexões que problematizam a ideia de formação e transmissão já que ela tem um interesse de estimular processos de “auto escavação” de cada artista participante, para que eles possam, em conjunto, mapear seus interesses e encontrar suas potências e singularidades, sem juízo de valor quanto à natureza desses interesses. Para ele, ministrar a oficina é também uma maneira de continuar se formando: é um jeito da gente compartilhar os nossos processos, as nossas práticas de criação e, principalmente, de chegar próximo de outros artistas e de suas lógicas e aprender com elas.
Com o olhar voltado para o público não envolvido na criação artística, Clarissa Sacchelli , que mediou a mesa Dança em tempo de novos masculinos e femininos, destaca a potencialidade que ações formativas têm de aguçar as reflexões sobre o olhar lançado para os espetáculos: Fruir de uma produção artística sempre está numa posição de quanto mais eu vou entrando em contato, mais eu tenho um posicionamento crítico.
Acho que pra um contexto igual a Bienal, que movimenta bastante o lugar onde ele está acontecendo, seria super legal se a gente pensasse em fazer as duas áreas (espetáculos e formativas) com o mesmo peso, por que é isso, você vai dando ferramentas para quem está participando e assistindo aquela programação.
Clarissa Sacchelli
Clarissa também aponta que atividades formativas podem ser vistas também como estratégias para inserir reflexões que muitas vezes ficam restritas aos públicos já iniciados em novos ambientes: Quase que elas entram nestes territórios e o público, mesmo sem perceber, já vai entrando em contato com questões que começam a ecoar e a fazer parte do dia a dia deles.
Texto de Mariana Krauss, editora web do Sesc Taubaté.
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